- No auge do movimento #MeToo, onde mulheres finalmente compartilham suas histórias de assédio e abuso sexual, um grupo fechado na Rede Social destinado a ser um ambiente seguro para mulheres com esse propósito tornou-se alvo de trolls, que tomaram a administração do grupo com diversos perfis falsos e passaram a ameaçar as mulheres com promessas de divulgar capturas de tela de suas postagens com suas histórias pessoais. O que era um santuário para vítimas de abuso, tornou-se mais uma forma dele.
- A empresa enfrenta desde 2016, severas acusações de ter permitido influência russas nas eleições presidenciais americana. Além de diversas investigações que indicam o comprometimento dos resultados das eleições em diversos países em decorrência da propagação de fake news por sua rede.
- O WhatsApp, pertencente ao conglomerado do Facebook, passa por uma crise de segurança que resultou em mudanças drásticas nas suas funcionalidades em países específicos, como é o caso da Índia onde a propagação de fake news resultou em uma chacina de 27 pessoas falsamente acusadas de tráfico de crianças.
sexta-feira, 27 de julho de 2018
“Keeping people safe will always
be more important than maximizing our profits.”
São
com essas palavras que Marck Zuckerberg encerra sua fala ao Comitê Legislativo da União Europeia nesta terça-feira (24). Mas o que o levou a ter que proferir
tais palavras? Um longo histórico de síndrome de Peter-Pan.
Nos
últimos meses, o mundo tem acompanhado a saga de ataques à imagem,
credibilidade e, finalmente, ao patrimônio do Facebook, que agora usa uma
estratégia abominada por eles mesmos até algum tempo atrás para lidar com a
crise: reconhecer seus erros.
Tudo
começou em abril deste ano com a explosão do caso Cambridge Analytica, que
revelou um dos maiores casos de data
breach na história de uma rede social, e abriu o caminho para perguntas
nunca antes feitas em alto e bom som: o Facebook é seguro?
Esta
é uma pergunta sem resposta fácil. O que significa segurança para você? Se fala
de proteger sua liberdade de expressão e segurança dentro de suas comunidades, a
resposta é não. Se fala de segurança no uso e compartilhamento dos seus dados,
a resposta é não. Mas quais evidências comprovam isso? Listemos alguns casos:
A
lista poderia seguir indefinidamente, mas é suficiente para demonstrar os
pontos chave do colapso que assola uma das maiores companhias de tecnologia do
mundo.
Agora,
é importante identificar onde está a fonte de energia que continua alimentando essa
crise. Uma das delas se encontra na própria classificação jurídica do Facebook.
Em seu registro de permissão para operar, a rede social é classificada como uma
plataforma de marketing, o que dá a ela uma forma específica de
responsabilidade jurídica nos âmbitos civil e criminal, uma vez que seu
conteúdo está em amplo grau amparado pelas prerrogativas de liberdade de
expressão sua e, especialmente, de seus anunciantes. E é verdade, que é através
da venda de serviços de exposição de marca que o Facebook constituiu seu valor de
mercado bilionário. O que agora tem fortalecido o debate de uma possível
alteração na caracterização de seus serviços, que seriam de entretenimento e
não de marketing, o que faria que sua esfera de responsabilidade fosse mais
suscetível de interferências de órgãos reguladores de conteúdo, um cenário de
horror aos seus acionistas e CEO. Ainda na esfera de problemas jurídicos, o
Facebook pode ser alvo refratário das novas regulações de dados na Europa, que
enfatizam princípios de transparência e conhecimento de dados, iluminados por
suspeitas de que o Facebook sabia dos vazamentos de dados de seus usuários, mas
não os comunicou, o que, por sinal, tem sido uma acusação recorrente para
diversas companhias de tecnologia.
Responsabilidade.
A palavra que pode definir o propósito deste texto.
Quando
as mentes pensantes por trás do Facebook por tantos anos decidiram,
deliberadamente, fechar seus olhos para a responsabilidade deles em ambientes
de segurança e transparência, eles semearam um mal que só agora se mostra ao
mundo. Ao abdicar de um estudo de impactos sobre situações reais, o Facebook
abriu mão de sua parcela de responsabilidade social, ainda no pensamento
aparentemente “ingênuo” de que ainda era, tão somente, um algoritmo designado
para unir pessoas. Em meados de 2013, Zuckerberg afirmou em uma rede de contato
interna com seus funcionários, que os seus engenheiros de software não deviam
se preocupar com os impactos sociais do Facebook, isso não era problema deles. Até
que se tornou. Em 2018, temos o mesmo Zuckerberg depondo diante do Senado
americano sobre como a empresa faz uso dos dados cedidos por seus usuários,
como essas informações são comercializadas, o quanto os seus funcionários têm
acesso e podem manipular essas informações, o que o Facebook tem a dizer. Isso é
a síndrome de Peter-Pan, daquele se recusa a crescer e responsabilizar-se pelo
seu novo panteão de causas e consequências.
Interessante
são os contrapontos de redes sociais com grande influência política como o
Facebook e o Twitter. Nesta semana, um relatório da Reuters informa que o
Twitter perdeu parcela considerável de seus usuários (na sua maioria, robôs) ao
aplicar suas novas regras de combate a desinformação e discursos de ódio, tudo
parte da pressão regulatória ao redor do mundo, mas conseguiu manter-se sem
prejuízos pelo terceiro mês seguido, após quedas na sua cotação de mercado. Ao contrário
do Facebook, que acaba de perder 19% de seu valor (U$ 120 bilhões) e vai
continuar em derrocada até conseguir implantar um modelo de negócios que
garanta a privacidade e segurança.
O
que resta são demonstrativos da diminuição do tempo de uso dos usuários da
plataforma, pesquisas indicando que adolescentes americanos não têm interesse
na Rede, campanhas para migração definitiva dos seus usuários para plataformas concorrentes e um movimento
interno de acionistas para retirar a concentração de poder de Zuckerberg sobre
a companhia.
É
isto que significa crescer, quando em meados de 2010, a decisão de influenciar
a participação política de americanos ao indicar quem de seus amigos já tinha
ido votar, traçou um caminho sem volta para o futuro das redes sociais. Porque?
Porquê mudou a sociedade. E este é o preço de crescer.
Cristina Alves.
FONTES
MATASAKIS,
Louise. How a Facebook Group for Sexual
Assault Survivors Became a Tool for Harassment. Wired, publicado em 19 de
julho de 2018. Disponível em: <https://www.wired.com/story/how-a-metoo-facebook-group-became-harassment-tool/>
SALAS,
Javier. O obscuro uso do Facebook e do
Twitter como armas de manipulação política. El País, publicado em 25 de
outubro de 2017. Disponível em:<https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/19/tecnologia/1508426945_013246.html>
SELL,
Adam. Facebook one-day loss is more than
what these companies are Worth. USA Today, publicado em 26 de julho de
2018. Disponível em:< https://www.usatoday.com/story/money/2018/07/26/facebook-loss-more-than-worth-these-companies/840318002/>
SHARMA,
Sharma, VENDGATTIL, Munsif. Zuckerberg
loses more than $15 billion in record Facebook fall. Reuters, publicado em
26 de julho de 2018. Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-facebook-results-stock/zuckerberg-loses-more-than-15-billion-in-record-facebook-fall-idUSKBN1KG1TN>
Sobre Grupo de Pesquisa em Tecnología, Direito e Inclusão
Grupo de Estudos e Pesquisa em Tecnologia, Direito e Inclusão foi criado com o intuito de suprir uma demanda da região Nordeste por mais organizações e plataformas de participação em que jovens, estudantes, professores e cidadãos em geral possam debater e contribuir com a produção científica e acadêmica a respeito dos aspectos jurídicos relacionados com as tecnologias.
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